Livros de Alice Miller publicados no Brasil

Ler os livros de Alice Miller é imprescindível para todos que foram abusados quando crianças. Sem dúvida, seus livros podem ser altamente libertadores para quem sofreu algum tipo de abuso na infância. Mas também para todos os profissionais: professores, educadores, psicólogos, pedagogos, psiquiatras, enfim, todos que sabem da importância do que acontece nos primeiros anos de vida.

Em 1979 estreou como escritora lançando o livro publicado na Alemanha, O Drama da Criança Bem Dotada, chegando ao Brasil apenas em 1997. Seu último lançamento no Brasil foi  A Revolta do Corpo em 2011.

Veja abaixo os livros traduzidos no Brasil:

– O Drama da Criança Bem Dotada – Como os pais podem formar (e deformar) a vida emocional dos filhos

Alice Miller – Summus Editorial,
Publicado na Alemanha em 1979.
Publicado no Brasil em 1997.

Apesar de ter apenas 107 páginas, o livro é profundo.  O título confunde, não é para pais que tenham gênios em casa, mas para qualquer um interessado na questão dos pais que (de)formam a vida de seus filhos.

Todos nós nascemos como crianças bem dotadas, com sensibilidade e possibilidade de uma vida emocional equilibrada. Alice Miller mostra como somos desviados dessa verdadeira natureza humana por um processo educativo alienante, obrigados a satisfazer exigências explícitas e dissimuladas de nossos pais para nos sentirmos merecedores do seu amor.

Logo no início Alice Miller esclarece a quem se destina:

Você foi amado(a) incondicionalmente pelo que realmente era? Ou foi pelos seus feitos, sua graça, sua beleza, adequação, obediência ou, ainda, por seu precoce treino ao banheiro, por ser muito “boazinha” (“bonzinho”), “não dar nenhum trabalho”, ter aprendido muito cedo os seus “deveres”, por ter cuidado dos irmãozinhos? Em suma, você era o “orgulho” da família? Se aconteceu isso, você faz parte da grande maioria das pessoas e, então, este livro é para você, para nós que fomos amados, ou seja, amados sob a condição de que correspondêssemos às expectativas, por vezes, insaciáveis, daqueles que cuidaram de nossa “educação”.

Enfatiza que continuaremos a ser reféns dessas emoções reprimidas em nossas infâncias enquanto continuarmos negando o fato de elas terem existido e nos marcado, tendo dessa forma, estabelecido um padrão que prevalecerá em quase todas as nossas relações.

– A Verdade Liberta
Alice Miller – Martins Fontes
Publicado na Alemanha em 2001.
Publicado no Brasil em 2004.

Neste livro Alice Miller nos explica os conceitos de “pedagogia negra”, “ testemunha auxiliadora”, “testemunha esclarecedora”,  cegueira emocional, o silêncio da igreja, a idealização dos pais, a repetição de padrão, os motivos pelos quais médicos, e até psicólogos, evitam falar sobre as dores da infância de quem os procura, enfim,  como podemos nos libertar pela conscientização da verdade sobre o sofrimento de nossa infância. Um livro de apenas 139 páginas, mas com um conteúdo importante para quem quer entender as consequências do silêncio.

– Não Perceberás – Variações sobre o tema do paraíso
Alice Miller – Martins Fontes
Publicado na Alemanha em 1981.
Publicado no Brasil em 2006.

A reflexão deste livro já começa pelo título, que nos sugere uma reflexão mais profunda sobre o tema: “não perceba o que te fizeram, não perceba o que te fazem, não perceba o que sente”.Quantos de nós passamos a vida sem sequer perceber a própria história?

Neste livro Alice Miller mostra a tentativa de defender a criança que vive reprimida dentro de cada pessoa que sofreu abuso físico e moral.  O silêncio do adulto passa a ser um inimigo mortal que sobrevive à infância, embora seja através da compulsão à repetição que este adulto vai sobreviver à criança maltratada.

 

– No Principio era Educação
Alice Miller – Martins Fontes
Publicado na Alemanha em 1990.
Publicado no Brasil em 2006.

Logo no início Alice Miller apresenta algumas citações que representam a sua indignação quanto à maldade, por exemplo: “Que alegria para os governantes as pessoas não pensarem”! (Adolf Hitler).

E como isso é ainda tão atual, apesar dela ter escrito esse livro há 24 anos.

A criança passa por uma longa luta interna: o medo de perder a pessoa que ama ou permanecer fiel a si mesma, ou seja, na luta para compreender sua própria história, ela a precisa negar para sobreviver, mesmo sentindo tida dor, ainda que inconsciente, e assim, cria um falso eu.  O que não pode ser sentido conscientemente, passa a não ser visto, portanto, não percebido.

 

– A Revolta do Corpo
Alice Miller – Martins Fontes
Publicado na Alemanha em 2004.
Publicado no Brasil em 2011.

Neste livro Alice Miller nos mostra como o corpo de uma pessoa é capaz de guardar em si, as marcas dos maus-tratos físicos e psicológicos que muitos pais fazem com seus filhos. Mostra acima de tudo, as consequências da recusa das emoções intensas e verdadeiras para nosso corpo, que registra todas as memórias traumáticas.

Ainda no prefácio, ela afirma: “Para mim, o inconsciente de cada pessoa não é senão sua história, que, embora esteja armazenada em seu corpo em sua totalidade, somente permanece acessível a nossa consciência em pequenas partes”.

Assim como o inconsciente, nosso corpo também armazena todas as informações sobre as experiências de nossa vida, ainda que não nos lembremos, e principalmente aquelas que acontecem nos primeiros anos de vida, pois quanto mais cedo for vivenciada, mais permanente será seu efeito, ainda mais quando se sofre algum tipo de abuso, seja emocional, físico e/ou sexual.

Mas o “esquecimento” de antigos traumas, ao contrário do que muita gente acredita, não nos traz nenhuma solução, pior ainda, poderá se fazer presente pelas doenças e/ou sintomas físicos. Na verdade, não os esquecemos, apenas são reprimimos em nosso inconsciente.

Portanto, a cegueira emocional é um luxo caro e, na maioria das vezes, (auto) destrutivo (pag. 9 e 10) … mas quem paga o preço dessa moral é o corpo… as pessoas maltratadas na infância esperam, a vida toda, receber finalmente o amor que nunca experimentaram… (pag. 11) … quando tudo isso faltou, fica naquele que um dia foi criança, um desejo de satisfação de suas necessidades vitais que dura a vida toda”. (pag. 15)

Sobre o corpo ela ainda diz: “Ele sabe o que lhe falta, não consegue esquecer as privações. O buraco existe e espera ser tapado. Contudo, quanto mais se envelhece, mais difícil se torna receber de outras pessoas o amor que um dia faltou. Mas as expectativas não são abandonadas com o envelhecer, muito pelo contrário. Elas são apenas transferidas para outras pessoas, principalmente para os próprios filhos e netos. A não ser que tomemos consciência desses mecanismos e reconhecendo a realidade de nossa infância da forma mais exata possível… Podemos, agora, oferecer a nós mesmos a consideração, o respeito, a compreensão de nossas emoções, a proteção necessária e o amor incondicional que nossos pais nos negaram”. (pag. 15-16)

Um livro imprescindível para quem sofreu maus-tratos na infância e sofre com sintomas físicos.