Trauma Jung
Para Jung, o trauma pode ser comparado a uma ferida psíquica. Daí pode-se facilmente representar o trauma como um complexo com uma carga emocional elevada.
– O que é um complexo?
É um agrupamento de pensamentos, imagens e/ou ideias, carregados de intensa carga de emoções afetiva. Podem ser entendidos como memórias congeladas e reprimidas de momentos traumáticos.
O complexo não está sob o controle da vontade e, por esta razão, possui autonomia psíquica. Ou seja, os complexos são autônomos e se comportam como seres independentes.
São conteúdos que geram perturbações à consciência, por possuírem muita energia psíquica, eles constelam, ou seja emergem do inconsciente para a consciência, e a pessoa é ameaçada de perder o controle sobre suas emoções, e de certa forma sobre o seu comportamento. É quando uma pessoa tem uma reação desproporcional a um fato externo, e sequer relaciona com conteúdos reprimidos no inconsciente.
– Origem do complexo:
Quando o ego não tem estrutura para suportar a intensidade afetiva relacionada à determinada vivência, é criado um complexo, que se forma no inconsciente, de forma involuntária e a partir das várias experiências da vida. A causa mais frequente de sua origem é o conflito, mas um trauma emocional também pode ser responsável pela sua formação.
O que determina a patologia ou a criatividade do complexo é seu grau de autonomia. Afetam drasticamente as nossas escolhas, o nosso comportamento e os nossos relacionamentos.
Os complexos poderão ser agrupados em categorias definidas: complexo materno; complexo paterno, complexo de inferioridade, complexo de superioridade, entre outros.
– Como superar?
Somente ter consciência de um complexo não o impede de operar. O passo mais importante para sua diluição é elevar o autoconhecimento.
A teoria dos complexos foi uma importante contribuição da Psicologia Analítica para a compreensão do inconsciente e de sua estrutura.
Trauma Ferenczi
Como se produz o trauma psíquico?
Ferenczi, psicanalista que se aprofundou no conceito de trauma, estudou a importância do fator externo na teoria do trauma, referindo-se aos primeiros objetos de amor da criança, especialmente seus pais, parentes, babás, amigos da família ou pessoas que tivessem contato direto e desfrutasse de sua confiança.
Ferenczi enfatiza a importância do ambiente como potencialmente desencadeador de traumas, deixando traços profundos na vida psíquica e no caráter da criança.
Quando o aparelho psíquico é atingido por quantidades excessivas de energia, são acionadas defesas muito arcaicas (máscaras), numa tentativa desesperada de manter a vida. Nesses casos não há o que recordar, só o que repetir (repetição de padrão).
Ferenczi acreditava existirem 3 modos de traumatizar uma criança:
– Por meio do amor forçado ou da falta de amor: experiências de sedução ocorridas entre crianças e adultos e que podiam ou não chegar à violação sexual. Considerado hoje como abuso sexual.
– Como consequência de frequentes punições físicas insuportáveis: sofrimento causado à criança pelas pessoas que dela se ocupam e nas quais costuma confiar. Podemos entender como abuso físico.
– Pelo terrorismo do sofrimento: uso emocional da criança por seus pais, que se sentem incapazes de lidar com suas próprias angústias. As crianças são obrigadas a resolver toda espécie de conflitos familiares, e carregam sobre seus frágeis ombros o fardo de todos os outros membros da família. Por exemplo, uma mãe que se queixa continuamente de seus próprios sofrimentos, fazendo com que seu filho cuide dela. Hoje conhecido como abuso emocional.
Em outras palavras, segundo Ferenczi, os 3 modos de traumatizar uma criança se dá pelo abuso físico, emocional e/ou sexual.
Em seu artigo: Confusão de línguas entre adultos e a criança (Obras de Ferenczi, Vol. IV), Ferenczi diz que a criança tenta se comunicar pela linguagem da ternura, e o adulto responde pela linguagem da paixão: esse mal-entendido, ou seja, essa confusão de línguas produz na criança, que depositava sua confiança naquele adulto, um susto, uma decepção, uma dor.
O trauma é caracterizado pelo choque inesperado provindo de uma experiência real, violenta, em virtude da incompreensão devida à confusão de línguas entre adulto e a criança.
Ferenczi ainda destaca o mecanismo da introjeção do agressor como consequência do traumatismo, ou seja, o medo de aniquilamento, devido à falta de defesas, obriga a criança a identificar-se com o agressor fazendo este desaparecer enquanto realidade exterior, tornando-o intra psíquico.
Trauma Alice Miller
Todos nós sabemos, ou deveríamos saber, que o castigo físico só produz filhos obedientes, mas não pode impedi-los de se tornarem adultos violentos ou doentes.
Está cientificamente provado que o desenvolvimento do cérebro de uma pessoa depende das experiências nos três primeiros anos de vida.
Uma criança espancada com frequência e privada de contato físico amoroso pode desenvolver a linguagem da violência, pois se torna o único meio eficaz de comunicação disponível. Quando foi aprovada a Lei da Palmada, foi constante o argumento contra o projeto, onde pessoas alegaram que os abusos físicos sofridos quando crianças não as tornaram criminosas.
Segundo estudos de Alice Miller, essas pessoas com certeza devem ter tido em sua infância uma pessoa que fez a diferença, um irmão, tio, professor, vizinho, alguém que os amava, e que pode não ter tido a condição de protegê-los, mas a presença desta pessoa deu à criança uma noção de confiança e amor. A essa pessoa Alice Miller deu o nome de testemunha auxiliadora.
Podem por exemplo, ter tido um pai brutal, mas uma mãe amorosa. Mesmo não sendo forte o suficiente para protegê-la de seu pai, deu-lhe uma concepção poderosa de amor. Podem até sofrer muito em sua vida, podem tornar-se viciado em drogas e terem problemas de relacionamento, mas graças a algumas boas experiências de sua infância geralmente não se tornaram criminosas.
É muito mais difícil para uma criança superar os primeiros traumas quando são causados por seus próprios pais. Mas infelizmente, mesmo tendo boas experiências nos primeiros anos, estas não apagam as emoções inconscientes e memórias armazenadas no corpo. Se o corpo de uma criança aprende desde o nascimento que atormentar e punir uma criatura inocente é a coisa certa a fazer, e que o sofrimento da criança não deve ser reconhecido, essa mensagem será sempre mais forte do que o conhecimento intelectual adquirido em um estágio posterior.
A informação sobre a crueldade sofrida durante a infância permanece armazenada no cérebro na forma de lembranças inconscientes. Para uma criança, a experiência consciente é impossível, ficando assim reprimida em seu inconsciente, podendo depois de anos, ser ativada por qualquer estímulo que funcione como gatilho.
A emoção do medo pode ser efetivamente evitada momentaneamente, mas não em longo prazo, porque as emoções reprimidas do passado não mudam enquanto permanecem despercebidas. Só podem ser transformados em ódio dirigido para si mesmo e/ou bodes expiatórios, como os próprios filhos. Esse ódio pode ser uma possível consequência da velha raiva e desespero, nunca conscientemente sentido, mas armazenado no corpo, no cérebro límbico.
Alice Miller (1923-2010) foi a primeira pessoa a fazer a conexão entre os castigos corporais e os danos futuros. Escreveu 13 livros, que foram traduzidos em trinta idiomas, sendo 5 traduzidos em português.