Quando ficamos doentes desejamos a cura, e nem sequer pensamos nos motivos que nos levaram a tal doença, mas é muito importante entender as motivações que nos fazem adoecer. Afinal, por que adoecemos? Essa com certeza não é uma resposta fácil de ser respondida, mas as pessoas adoecem porque têm necessidade de adoecer, ainda que inconscientemente, por mais difícil que seja aceitar esse fato. Por que haveria a necessidade para o adoecer?
Vamos analisar alguns fatores desencadeantes do adoecer:
– fuga
– incapacidade de expressar as emoções
– desejo de autopunição
– necessidade de atenção (muito comum em crianças e idosos)
– estresse
– Fuga:
A doença pode ser uma válvula de escape dos conflitos emocionais. De alguma forma, ao adoecer somos “obrigados” a nos retirar da rotina para buscar a cura, é como se fosse uma maneira de nos cuidarmos, e que muitos deixam esse importante quesito para a manutenção da saúde em segundo plano. Por exemplo, o caso de um empresário que sofre um infarto quando se depara com a falência de sua empresa.
Muitas vezes a doença pode ser mais destrutiva que a agressão original, mas que naquele momento não foi mais possível suportar. Se a pessoa se encontra num momento de fragilidade, ou seja, sem mecanismos de defesa, mais facilmente ela adoecerá. O mais indicado é não negar o sofrimento ou o conflito pelo qual se passa, mas nem sempre a própria pessoa consegue identificar o que sente. A dor tem que ser sentida e esgotada, pois só assim será superada.
– Incapacidade de expressar as emoções:
A incapacidade de expressar as emoções é um fator importante na origem das doenças orgânicas.
Existe um nome para isso: alexitimia, que é um termo que diz respeito à marcante dificuldade em verbalizar emoções e descrever sentimentos, bem como sensações corporais. A palavra provém do grego, onde A indica ausência, lexis é palavra e timia, emoção = ausência de palavra para expressas emoção.
Um dos principais sintomas é a confusão entre sensações e sentimentos, e grande dificuldade em expressar os sentimentos através de palavras. O alexitímico costuma relacionar suas sensações físicas aos seus sentimentos. Por exemplo, após sofrer um golpe emocional, o alexitímico irá reclamar de dor de cabeça ou fadiga, mas não saberá relatar de forma clara o que realmente sentiu.
Em nossa sociedade, apesar de que nos últimos anos, felizmente, esta realidade tem mudado, ainda não há espaço para manifestações de afeto, exteriorização das emoções ou do sofrimento psíquico. É muito mais aceitável, por exemplo, uma justificativa pela ausência da pessoa no trabalho em função de alguma doença física do que por uma dificuldade emocional. É mais aceitável um infarte, onde todos ficam comovidos e preocupados; do que uma depressão, ou outro sofrimento psíquico, que geralmente é visto como “frescura”. Claro que isso acontece muito mais em função da falta de conhecimento, da ignorância, do que pelo fato em si.
Essa postura intolerante diante do sofrimento psicológico fica evidente no comportamento de algumas pessoas que convivemos. A doença física parece ser mais merecedora de atenção e cuidados do que aquele que sofre sem apresentar alterações orgânicas. Isso faz com que muitas pessoas tenham vergonha de sua dor psíquica, não tendo muitas vezes, espaço nem coragem, para expressar seu sofrimento, escolhendo assim, ainda que inconscientemente, a expressão pelo físico.
Um exemplo é o empresário citado, que diante das dificuldades e não suportando seu sofrimento e angústia, ao sofrer um infarte, sabe, inconscientemente, que todos lhe darão amparo e cuidados; mas se ele se colocasse a chorar e lamentar-se por sua dor emocional, poderia receber desprezo e ser visto como alguém fraco.
É comprovado que as pessoas que suportam suas dores sozinhas adoecem com maior frequência e de maneira mais grave que aquelas que verbalizam suas dores. Algumas pessoas criam dentro de si verdadeiras prisões emocionais.
A incapacidade de comunicar com palavras seus sentimentos faz com que o corpo expresse esses sentimentos, ou seja, o adoecer é a forma inconsciente de mostramos nosso sofrimento de uma maneira mais aceitável ou quando não conseguimos fazê-lo de outra maneira.
– Autopunição:
A autopunição surge para aliviar a ansiedade causada por um sentimento de culpa, derivado de um comportamento real ou imaginário, onde a pessoa se agride internamente. São pessoas que, consciente ou inconscientemente, se sentem culpadas e merecedoras de castigo. Com a culpa, sempre vem a autopunição.
Quando há um conflito, mesmo que não tenhamos consciência de sua existência, será motivo de muito sofrimento, e se não for adequadamente resolvido, resultará em um estado de desequilíbrio do organismo a que chamamos doença. Como nem sempre conseguimos modificar a realidade, temos que nos adaptarmos a ela. Esse processo de adaptação não ocorre impunemente.
Os meios que nossa psique lança mão para controlar o conflito são através dos mecanismos de defesa, que podemos entender como válvulas de escape de uma panela de pressão, que se não existirem, a panela explode. A explosão seria a doença, pois nem sempre os mecanismos de defesa conseguem ser eficazes.
– Necessidade de atenção:
A doença surge como uma forma de obter atenção, principalmente em crianças e idosos.
A “opção” pelo adoecer se faz pelo que chamamos de ganhos secundários. Para muitas pessoas a doença e o repouso na cama satisfazem suas necessidades de dependência e cuidados, e até de descanso, como o ambiente hospitalar, que oferecem a oportunidade de satisfação parcial ao serem alimentados, cuidados e protegidos no mundo exterior. Ou as visitas constantes ao médico, tendo que as ouça e lhes dê um pouco de atenção, principalmente entre os idosos.
Se quando crianças ficávamos doentes e éramos atendidos, quando adultos podemos relacionar ficar doente com obter atenção, buscando preencher as carências e necessidades. Quando ficamos doentes não ficamos mais carentes de atenção, colo, carinho? Isso acontece porque um dos mecanismos de defesa muito comum durante a doença é a regressão, onde passamos a ter comportamentos próprios da infância. A regressão significa uma dificuldade em enfrentar ou controlar as situações de conflito. É como se, voltando a agir como criança, desistíssemos de lutar e nos entregamos aos cuidados dos outros.
– Estresse:
O estresse é um conjunto de reações que o organismo desenvolve quando submetido a uma situação que exige esforço para sua adaptação. É uma tensão emocional constante e quando essa tensão se torna intensa e prolongada, poderá haver falha nos mecanismos de defesa e surge a doença.
A expressão corporal constitui o primeiro e mais primitivo meio de comunicação e de defesa que o ser humano dispõe, principalmente nos momentos que as defesas estejam bloqueadas.
A vinculação entre estado psicológico e baixa das defesas do organismo baseiam-se nas alterações orgânicas que as situações do estresse provocam: maior produção de cortisona (hormônio produzido pelas supra renais), levaria à maior destruição das células de defesa do organismo. A relação entre o estado psicológico e as doenças não ocorre apenas nas situações de estresse, mas também de tristeza, ou toda sobrecarga de tensão emocional.
Diante do exposto acima, podemos perceber que as origens das doenças podem ser muitas, mas se analisarmos mais profundamente podemos perceber que a necessidade de adoecer está sempre relacionada com a falta de amor a si mesmo, e a necessidade desesperada de reconhecimento e atenção do mundo exterior. E ainda mais, percebemos como é importante expressarmos nossas emoções!