Biografia de Ferenczi
Sándor Ferenczi, psiquiatra e psicanalista, nasceu a 7 de julho de 1873, em Miskolc, na Hungria. Sándor (diminutivo de Alexandre) era médico psiquiatra e psicanalista, originário de uma família de judeus poloneses. Foi o clínico mais talentoso da história do freudismo e um dos seguidores da psicanálise de Freud. Tinha uma amizade íntima com Freud e foi o seu discípulo favorito e um dos seus raros amigos.
Ferenczi é muito pouco conhecido entre o meio acadêmico e mesmo entre os profissionais experientes, lamentavelmente.
Tornou-se um dos mais importantes discípulos de Freud, quando as bases da ciência psicanalítica ainda se encontravam em desenvolvimento. Fiel ao mestre, ele fazia parte do núcleo próximo do fundador da psicanálise, formado por psicanalistas como Carl Gustav Jung, Alfred Adler e Otto Rank.
Desde o início de sua formação como médico neurologista esteve preocupado com a diminuição da dor psíquica, se ocupando de pacientes em estado de grande sofrimento, o que o levou a se aproximar de formas alternativas de cura, tais como o espiritismo e seitas orientais, até seu encontro com a psicanálise.
Dedicou toda sua obra a questionar a psicanálise, procurando ampliar seus limites terapêuticos e, em suas preocupações, privilegiou o tratamento de psicóticos, de pacientes psicossomáticos e casos-limites, sendo que muitas de suas ideias encontram-se na origem da teoria psicanalítica das escolas inglesa e francesa.
Considerado o enfant terrible (“criança terrível” é um termo francês para designar uma criança que é muito inocente ao ponto de dizer coisas embaraçosas aos adultos) da psicanálise, por sua ousadia em enfrentar questões delicadas no corpo teórico e clínico da mesma, e por sua dedicação ao que fora deixado de lado na obra de Freud, Ferenczi se destacou como um dos seus discípulos prediletos, bem como seu mais significativo colaborador.
Poucos sabem, mas a escola kleiniana deve muito a Ferenzi. O médico húngaro foi quem introduziu o termo introjeção. Ao atender Melanie Klein, deu a ela as ferramentas necessárias para iniciar uma teoria que modernizaria a psicanálise e possibilitaria o atendimento de pacientes regredidos e não apenas dos neuróticos clássicos de Freud.
Sua defesa ferrenha do homossexualismo e seu interesse pela figura feminina complementam uma visão de mundo muito a frente de seu tempo. Chega a ser assustadora sua genialidade, por adiantar, durante uma época conservadora e absolutamente preconceituosa, conceitos que seriam discutidos abertamente apenas depois da revolução comportamental e sexual de 1960.
Seus trabalhos podem ser divididos em duas grandes fases: a primeira iniciada em 1908, ano em que encontra Freud pela primeira vez, e concluída em 1923. A segunda fase começa em 1924, até sua morte, em 1933, onde acontece suas contribuições mais criativas.
Em 1894, Ferenczi obtém o seu diploma de medicina em Viena na Áustria e começa a interessar-se pelos fenômenos psíquicos e pela hipnose.
Em 1897, Ferenczi opta pela carreira médica e começa a trabalhar no Hospital Saint Roch, em Budapeste, onde logo se mostrou adepto da medicina social e se tornou médico assistente no asilo de pobres e prostitutas.
Em 1899, publica inúmeros artigos pré-analíticos até 1908, entre eles Espiritismo, dedicado à transmissão de pensamento, mas é em 1900 que se estabelece como neurologista, sendo chefe do serviço de Neurologia em 1904.
Em 1906, sempre pronto a ajudar os oprimidos, a escutar os problemas das mulheres e a socorrer os excluídos e marginais, tomou a defesa dos homossexuais em um texto corajoso apresentado à Associação Médica de Budapeste.
Em 1907, entusiasmou-se pela obra de Freud, e depois de ler A Interpretação dos Sonhos, visitou Freud em 1908, acompanhado de seu colega e amigo Fulop Stein. Iniciou assim a longa relação com aquele que se tornaria seu analista, mestre e amigo. Freud e Ferenczi compartilharam várias férias de verão.
Em 1908, Ferenczi participou do I Congresso de Psicanálise em Salzburgo e fez uma conferência sobre “Psicanálise e Pedagogia”. Um ano mais tarde, acompanhou Freud na sua célebre viagem aos Estados Unidos, juntamente com Jung e publicou seu primeiro grande trabalho teórico Transferência e Introjeção.
Em 1909, fundou a International Psychoanalytical Association (IPA).
Em 1913, criou com Sándor Rado, Istvan Hollos, Lajos Levy e Hugo Ignotus a Sociedade Psicanalítica de Budapeste. Membro do Comité Secreto de Psicanálise, a partir de 1913 participou de todas as atividades da Direção do movimento freudiano.
Em 1914, Ferenczi analisou duas grandes figuras do movimento psicanalítico: Geza Roheim e Melanie Klein, e em 1918 é eleito presidente da Associação Internacional de Psicanálise.
Em agosto de 1921, Ferenczi vai a Baden-Baden conhecer Groddeck, que seria seu amigo por toda a vida.
Em 1924, publica Thalassa: Ensaio sobre a Teoria da Genitalidade, obra sobre o trauma do nascimento.
Em 1926 foi ao 70° aniversário de Freud.
Dentre seus interesses teóricos destacam-se: os temas da introjeção e projeção, a ênfase sobre o papel estruturante do objeto externo no desenvolvimento psíquico, a regressão na cura analítica, a importância dos vínculos – relação mãe e bebê, o impacto do trauma infantil na constituição do sujeito, a distinção do trauma, do traumático e do traumatismo, bem como a clivagem corpo e psiquismo.
No desenvolvimento das questões técnicas, propôs a necessidade de contato emocional entre analista e analisando para a efetiva realização de um processo de mudança psíquica; ressaltou a importância da empatia e da contratransferência como paradigma técnico, e a defesa da psicanálise para não médicos.
Cada vez mais, a importância de sua obra tem sido reconhecida pela atualidade das questões abordadas, que se revela no debate do tratamento de vítimas de abuso sexual infantil.
Para Ferenczi, o traumatismo psíquico resultava não só do evento traumático em si, mas principalmente da indiferença dos adultos diante do sofrimento da criança.
A originalidade do seu pensamento e o papel que desempenhou no nascimento do movimento psicanalítico húngaro e internacional faz de Sándor Ferenczi uma das figuras mais eminentes e mais originais da psicanálise.
Até o fim da sua vida, não cessou de tentar criar novas técnicas mais eficazes que o tratamento clássico, a fim de proporcionar uma melhor ajuda aos pacientes. Inventou a técnica ativa, que consiste em intervir diretamente no tratamento, através de gestos de ternura e afeto, e depois a análise mútua, durante a qual o analisando é convidado a “dirigir” o tratamento ao mesmo tempo que o terapeuta.
Durante um quarto de século, Ferenczi trocaria com o mestre de Viena 1.200 cartas.
Em 1933 participa da queima de livros “antialemães” nas fogueiras em Berlim.
No final de sua vida, sofreu com o preconceito por suas ideias, não sendo reconhecido, apesar de suas ricas contribuições, principalmente sobre trauma. Morreu sendo acusado por Ernest Jones (1879-1958) de ser um psicótico. Jones era neurologista, psicanalista e foi o biografo oficial de Sigmund Freud. Em 1949, Jones começou a redigir a primeira grande biografia, em 3 volumes, dedicada a vida e obra de Freud, e que terminou após 7 anos.
Ferenczi foi analista de Ernest Jones, e sabia do ódio ciumento que Jones sentia do relacionamento entre ele e Freud. Ódio que apresentará Ferenczi como um paranoico na biografia oficial que Jones escreveria sobre Freud, e quase toda a comunidade psicanalítica aceitou a afirmação de Jones de que Ferenczi teria enlouquecido durante os três últimos anos de sua vida.
Fato que foi desmentido por todos aqueles que assistiram a Ferenczi em seus últimos dias, provando que seus surtos foram consequência de problemas respiratórios provocados por uma anemia perniciosa.
As experiências técnicas de Ferenczi não foram aceitas por Freud e culminaram na ruptura entre os dois em 1933, ano da morte de Ferenczi em Budapeste, em 24 de maio, aos 60 anos de idade.