A hierarquia familiar até poucos anos atrás era uma estrutura rígida, seguindo padrões matriarcais ou patriarcais, onde ainda hoje encontramos filhos e netos frutos dessa estrutura familiar e suas consequências.
Quando há uma família disfuncional, ou seja, conflitos, brigas, desarmonia, um membro tenderá a sintetizar a patologia da família, que muitos chamam de bode expiatório. Geralmente é o mais sensível quem adoece, como se representasse toda a família, ou sua dinâmica. Há famílias onde apenas um membro não consegue assumir toda carga e outro também adoece, sendo alguém com que se tenha um vínculo afetivo mais forte e os dois adoecem; ou ainda, quando um fica curado, outro adoece. Todo esse processo acontece inconscientemente como forma de manter algum vínculo através da doença. Há muitos casos que após o falecimento de uma membro da família que estava doente, toda família se separa, como se a doença fosse o único vínculo que os mantinham juntos. Mas há algumas características estruturais familiares que geram ou podem facilitar a psicossomatização:
– Famílias onde não ocorre a verbalização de emoções e de afetos, considerando que o fato de todos estarem juntos não é necessário falar o que sente;
– Famílias onde os contatos corporais são raros ou inexistentes, sendo que as trocas emocionais e físicas só ocorrem através de presentes;
– Famílias que se desdobram em atenção para alguém quando este se encontra doente, ou seja, é transmitida a mensagem que ficar doente é bom, pois assim se recebe atenção;
– Quando ocorre na família mensagens contraditórias, incoerentes, ou seja, criança pergunta por que a mãe está chorando e esta responde que não está chorando ou que é “impressão”;
– Quando a rigidez e coerção são muito altas, havendo castigos, brigas, comparações;
– Quando existe o medo:
– de mostrar sentimentos, emoções e desejos entendidos como “errados, vergonhosos, feios”;
– de não corresponder à expectativa muito elevada dos pais, podendo adoecer para ser poupada da crítica;
– de não ser cuidado e amado o suficiente estando bem de saúde, ou seja, se não ficar doente poderá ser abandonado;
– de ser punido por estar bem, como se fosse pecado ter saúde;
– da morte, e estando doente e se cuidando sente como se tivesse a morte sob controle; (mais comum em idosos).
– Religiosidade: Pode ser interpretada de forma extremamente castradora e a pessoa adoece como forma de purificação, ou ainda, a disseminação da culpa que está muitas vezes relacionada com a cultura religiosa;
– Dependência química: ela em si já aponta uma desorganização familiar que ao mesmo tempo favorece o surgimento de outras desorganizações.
Podemos perceber que a doença pode ser uma forma encontrada para que as pessoas de uma família estejam próximas e mostrarem afetos, mas podemos perceber com frequência, que durante o surgimento da doença, todos podem se aproximar, e em seguida se separam novamente. Mas será que precisamos chegar a uma doença para ter proximidade?
É importante salientar nas manifestações psicossomáticas a sua correlação temporal com determinados acontecimentos ou datas. Os acontecimentos se referem a uma perda real como morte de um ente querido, ou situações equivalentes como mudanças, divórcio, separações de casa, desemprego, crises, etc. Por exemplo, é comum uma pessoa adoecer, anos depois, na mesma data em que o pai faleceu. As datas, ou são datas de significação universal como Natal, Ano Novo, ou específicas, como o dia do aniversário, ou ainda, uma data que marca repetidamente uma situação traumática ocorrida anteriormente. O que reforça a somatização frente a situações de perda e a dor que estas implicam.
Essas informações não são com o intuito de buscar culpados, mas entender a origem de alguns conflitos que temos dificuldade em lidar; assim como rever a maneira com que muitos pais, ainda hoje, com tanta informação, educam seus filhos, podendo repetir padrões antigos de educação sem perceberem que estão fazendo aquilo que prometeram a si mesmos nunca mais repetirem.