“Podemos esquecer o que nos disseram, o que nos fizeram,
mas nunca esqueceremos do que nos fizeram sentir”
Apesar de toda informação que temos atualmente, muitas pessoas ainda têm a noção que a criança é um ser passivo, que nada percebe, mas a infância, assim como a gestação, são épocas que podem determinar as escolhas futuras. Podemos encontrar sintomas somáticos não só em adultos, mas também em crianças. Mas o que faz que uma criança apresente um sintoma? Em geral é uma representação dos conflitos familiares, uma projeção dos sentimentos daqueles com quem convive, ou seja, a criança utiliza seu próprio corpo para expressar a maioria dos conflitos que experimenta.
Devemos considerar que as famílias hoje não são mais estruturadas como antigamente, onde a mãe permanecia em casa vinte e quatro horas por dia, cuidando dos filhos; as crianças hoje estão, em sua maioria, em creches ou escolas desde muito cedo. As babás também assumiram um papel importante na formação das crianças, assim como as professoras. O que torna igualmente importante o contato constante dos pais com esses profissionais.
Os conflitos existentes entre o pai e a mãe podem gerar sintomas na criança tanto quanto os distúrbios do vínculo entre os pais e o bebê, na medida que impedem um adequado desenvolvimento emocional e consequentemente da personalidade. Como também as angústias da mãe podem ser captadas desde cedo pelo bebê, prejudicando-o intensamente.
Uma boa relação com a mãe propicia na criança um sentimento básico de confiança. Caso isso não ocorra, a criança pode perceber que só conseguirá despertar o interesse, a atenção e os cuidados da mãe, adoecendo; principalmente quando isso é reforçado. Quando a criança sente que só é valorizada quando doente, como se fosse premiada com cuidados especiais; e sendo rejeitada quando saudável, ela passa a adoecer com frequência, relacionando atenção, afeto e amor com doenças. Como a criança não possui outra forma de se expressar, ela aprende a usar o corpo como meio de comunicação e defesa. E podemos encontrar muitos adultos que continuam esse processo com sintomas recorrentes como única forma aprendida de obterem atenção, tendo como exemplo, os hipocondríacos, assunto de outro artigo. Ou seja, ficar doente é a única forma que encontra para obter atenção.
O bebê detém uma capacidade muito limitada de comunicação. Por não falar, não andar, ele depende totalmente de alguém que cuide dele. É através da mãe (ou de quem exerça essa função) que a criança sobrevive. Por isso, ela necessita de um íntimo e intenso contato com a mãe, tal como se fosse parte dela.
O meio que a criança dispõe para se comunicar é o próprio corpo. As respostas que a criança obtém através dos cuidados que a mãe lhe oferece se fazem sentir no seu corpo. Essas experiências são registradas no aparelho psíquico da criança de acordo como suas necessidades foram atendidas. A atitude da mãe é captada pela criança principalmente enquanto a toca e alimenta, por isso muitas crianças apresentam tantos distúrbios alimentares, dependendo como ocorre essa troca de afeto no momento em que é alimentada.
Podem deixar de comer, comer em excesso, e todos os demais sintomas referentes ao estômago expressando sentimentos que não conseguem de outra forma. A hora da alimentação pode ser um fator desencadeante de sintomas, pois muitos conflitos são resolvidos entre o casal, são discutidos nesse momento, levando-os a brigas intensas e constantes. Ou ainda, a criança pode sentir a emoção de quem a alimenta, se for uma pessoa que está com raiva, pressa, ela sentirá e se expressará negando o alimento. E pode surgir a falta de apetite de origem emocional na criança. Na verdade, ela não quer negar a comida, mas sim as brigas e as emoções despertadas nesse momento.
Quando a mãe consegue captar e atender as necessidades da criança adequadamente, o registro dessa experiência será de tonalidade afetiva agradável e tranquilizadora. Quando isso não acontece, havendo desarmonia no relacionamento mãe-filho, caracterizada por instabilidade emocional da mãe, por insegurança, traços depressivos, a criança se sentirá ameaçada, tendo seu sentimento de existência em risco e sentirá uma angústia, onde recorrerá ao próprio corpo para expressá-la.
O sintoma é o resultado de todos os problemas da criança, ou melhor, na maioria das vezes é o problema dos pais que são representados pela criança em seu corpo, por ser este o único meio pelo qual a criança consegue expressar o que sente. Com o decorrer do tempo, as tensões vivenciadas na família podem atingir o emocional da criança, predispondo-a a muitos sintomas, como, por exemplo, a anorexia, insônia, diarreia, constipação intestinal, entre outras.
A asma é outro sintoma comum em crianças, principalmente se são superprotegidas. A maioria das crianças com asma são dependentes das mães. Isso ocorre quando a criança percebe que a mãe deseja controlá-la, e a gratifica ficando doente e demonstrando o quanto é dependente dela, buscando assim satisfazer a mãe, que retribuirá com seu carinho e cuidados mais constantes, sentindo-se assim útil ao ter alguém que lhe é tão dependente.
A pele pode ser outro alvo preferido para a expressão de sintomas, assim como o pulmão. Esses dois órgãos simbolizam o afeto, por isso é tão comum a criança apresentar sintomas na pele ou respiratório. A criança, que tem menos defesas emocionais, pode denunciar a falta de contato com os pais através de doenças dermatológicas.
As crianças sentem o que os pais, e principalmente, a mãe, sentem o seu íntimo, muito mais no que é expresso pelas palavras. Nas mães, que por algum motivo rejeitam seus filhos, podemos encontrar na criança vários tipos de dermatites ou afecções cutâneas para que estas possam demonstrar que são capazes de fornecer-lhes carinho e atenção, por saberem que sem os sintomas não conseguiriam. Por exemplo, um bebê pode ter muitos furúnculos pelo corpo para que a mãe mantenha contato com seu corpinho e assim obtenha afeto através de seus cuidados, quando sente que de outra forma não receberia.
Há também casos em acontece ao contrário, mães que não se sentem preparadas para levar seu pequeno bebê quando nasce para casa, transmitindo isso inconscientemente, e este pode ter que permanecer no hospital por alguns dias pelos mais diferentes motivos, um exemplo comum é a icterícia.
A superproteção também pode ser sentida pela criança como rejeição, ainda que negada pela própria mãe. A criança pode sentir que a mãe esteja querendo compensar ou reparar sua falta de amor pela atenção excessiva. A superproteção, como o autoritarismo, impede muitas vezes da criança crescer, tornando-a insegura, infantil, sem iniciativa, características que depois serão cobradas quando adulta.
Muitas crianças também podem apresentar sintomas decorrentes do excesso de atividade. Há famílias que exigem muito de seus filhos, principalmente por resultados na escola, nas competições esportivas, nas apresentações de dança, música, etc. Na verdade, não é o excesso de atividade que geram os sintomas, mas sim as cobranças que existem em função delas. Podem faltar nas aulas, ou em dias importantes, por sentirem dor de cabeça ou qualquer outro sintoma.
Também existem crianças que não recebem incentivo algum no que querem fazer, desistindo tudo que começam, sempre esperando reconhecimento ao começar outra atividade. Há ainda a criança que não recebe o mínimo de limites, sentindo como se não fosse importante para os pais.
A queixa mais comum é o choro constante que se mantém mesmo quando nada é diagnosticado que o justifique. Por exemplo, há casos de crianças que após um período de internação hospitalar, ao voltarem para casa, acordam chorando de madrugada.
Muitas dessas crianças tomam remédio para dor, cólicas, para se acalmarem, no entanto, nada faz que o choro pare, mas depois foi constatado que seu choro acontecia nos mesmos horários que eram aplicadas injeções quando internada, ou seja, seu problema real estava no seu sofrimento e nas suas emoções, e não em dores físicas. O choro também pode ser um pedido de atenção, como qualquer outro sintoma.
As dores de barriga do bebê, em geral, são manifestações ligadas à tensão emocional dos pais ou da família, ou podendo representar também o rompimento da adaptação existente entre mãe e bebê durante a gestação.
Outro exemplo comum é a criança que regride com a chegada de um irmãozinho em casa. Começa a falar errado, querer colo, comer sopinha, enfim, se torna novamente dependente, ou adoece. Isso ocorre quando a criança se sente abandonada ao ver toda a atenção, por motivos óbvios, ser dada ao bebê. Ao perceber que ficando doente consegue despertar novamente o interesse, a atenção e os cuidados que deseja dos pais por ela, poderá ficar doente constantemente, e os pais sem querer acabam por reforçar seus comportamentos.
Os exemplos de sintomas originados pelos conflitos dos pais e expressos no corpo da criança são muitos e comprovados, mas nós, adultos, podemos e devemos prevenir que isso aconteça. Para realmente sermos capazes de ajudar nossos filhos precisamos nos libertar dos preconceitos, autoritarismo, críticas e exigências constantes.
Precisamos aprender a lidar com nossas próprias dificuldades internas, para que a criança não seja, como o é muitas vezes, portadora dos conflitos de seus pais ou da dinâmica familiar, por mais que isso seja difícil de ser aceito. Devemos lembrar que a criança não registra a palavra, mas o que nós transmitimos em nosso tom de voz, em nossas atitudes, e principalmente, elas captam aquilo que sentimos em nosso íntimo, em nosso inconsciente.
Por isso, para quem ainda não tem filhos, é importante ter a consciência que quando não se deseja ou não se está preparado para ter um filho, que utilize os métodos contraceptivos disponíveis.
Não podemos negar que ao ter um filho a vida, tanto do pai quanto da mãe, muda radicalmente, principalmente para aqueles que não se sentem preparados para terem, por alguns anos, um ser tão dependente de seus cuidados. Mas quando se espera um filho, pai e mãe devem buscar informações sobre a importância da expressão de afeto, carinho e amor, desde quando está ainda no útero, pois a gestação é um período muito importante para o desenvolvimento de suas emoções. Há muitos cursos oferecidos por hospitais para ser feito durante a gestação. Se você está grávida, procure se informar com seu médico. E para quem tem filhos lembre-se sempre que se você tem uma criança ferida provavelmente irá ferir seus filhos, ainda que não aceite isso de forma consciente.
Mas como podemos evitar todos esses e outros sintomas representados no corpo do bebê e/ou criança?
Primeiro buscar resolver os próprios conflitos, fazendo análise, para evitar assim repetir os mesmos padrões de comportamentos. Isso feito, o contato corporal com o bebê e/ou criança é imprescindível, e a melhor pessoa para fazer isso é a mãe e também o pai, pois este representa um fator importante na medida em que dá segurança a mãe para que cuide de seu filho. Segundo estudos, nos casos que crianças choram sem nenhum causa orgânica que justifique é recomendado esse contato de uma a duas horas diárias, onde após uma semana a queixa desaparece. A receita é: mãe três vezes ao dia, uma hora de cada vez, mantendo o contato corporal com expressões de afeto.
Expressões de afeto, carinho, também podem ser feitas durante o banho, a alimentação, as trocas de fraldas. Massagens também são bem aceitas pelos bebês e crianças, pois esse contato físico é tudo o que mais precisam e desejam. Assim como colocar para ouvirem uma música suave, que os ajudem a relaxar. O importante é o contato corporal e as verbalizações constantes de amor coerentes com que se sente.
Quando a criança já sabe falar, devemos ouvir suas queixas, seus sentimentos, sem julgar ou menosprezar, respeitando acima de tudo o que sente, validando cada um de seus sentimentos. Pouco se dá oportunidade da criança falar, e ele sempre deve ser ouvida para que não se expresse através do corpo. Mas a melhor prevenção para as doenças dos pequenos, ainda é dizer eu te amo, fazer elogios, dar carinho, sem que eles precisem adoecer para receber tais cuidados. Esse é o alimento que os pais devem doar e a melhor herança que podem deixar!